Três mineiros concorrem ao prêmio de melhor café sustentável do mundo
Três cafés mineiros concorrem ao título de melhor café sustentável do mundo. Os grãos das fazendas São João (Cerrado Mineiro), Serra do Boné (Matas de Minas) e Vila Oscarlina (Sul de Minas) são finalistas da 9ª edição do Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy, promovido pela empresa italiana illycaffè. O resultado será revelado nesta terça-feira (12 de novembro), em Nova York, nos Estados Unidos. No total, 27 produtores de nove países disputam o primeiro lugar.
A família Sanglard, de Araponga, na Zona da Mata, já figurou entre os finalistas do prêmio em diversas ocasiões. “A vantagem de um clima mais ameno em comparação com outras regiões contribui para a alta qualidade dos nossos cafés. Devido à maturação mais lenta, a florada ocorre na mesma época das demais regiões, mas a colheita é mais tardia, permitindo que os grãos fiquem mais tempo na planta, resultando em melhor qualidade”, revela Matheus Lopes Sanglard.
Localizada na região das Matas de Minas, a Fazenda Serra do Boné conta com uma topografia montanhosa, com áreas bastante íngremes, o que exige que a colheita seja manual ou semimecanizada. A altitude varia entre 1.000 e 1.400 metros e essa diferença de declínio geralmente resulta em cafés com diferentes nuances e terroirs, o que também contribui para o enriquecimento da qualidade dos grãos.
A família Sanglard fornece grãos para a illy desde 2013
Sobre o tema da sustentabilidade, Matheus enumera práticas agrícolas que respeitam o meio ambiente. “Conservamos as nascentes, protegemos as áreas de água e utilizamos o mínimo possível de agrotóxicos e adubos químicos, dando preferência a adubos orgânicos e retornando a palha de café para as lavouras. Fazemos o plantio do café de forma a minimizar o impacto ambiental, utilizando roçadas ou capinas no lugar de herbicidas sempre que possível e realizando pulverizações contra doenças e pragas apenas quando necessário, de forma pontual.”
Solo fértil
O Sul de Minas Gerais é uma região tradicionalmente conhecida pela cultura cafeeira e suas lavouras centenárias, que sempre produziram cafés de excelência, graças ao solo fértil e ao manejo cuidadoso das plantações. É lá que fica a Fazenda Vila Oscarlina, propriedade de Flavio da Costa Figueredo.
Aproximadamente 30% da fazenda de Flávio Figueredo é destinada à reserva de mata nativa
A fazenda, que fica na cidade de Cabo Verde, ganha destaque pela preservação ambiental, com aproximadamente 30% da área destinada à reserva de mata nativa.
“Essa forte conservação ambiental resultou na certificação da fazenda pela Rainforest Alliance, conquistada devido à diversidade e ao compromisso com a preservação do meio ambiente. Em relação ao uso de agroquímicos, sigo rigorosamente as diretrizes da certificação Rainforest Alliance. Não utilizo defensivos que possam prejudicar abelhas, pássaros ou qualquer outra forma de vida. Na minha propriedade, todo o trabalho é realizado de forma 100% manual, sem o uso de arados que possam degradar o solo”, revela.
O cafeicultor também adota práticas sustentáveis no manejo da água. As águas residuais do processo de descascamento do café são direcionadas para tanques de decantação, onde passam por diferentes estágios de filtragem antes de serem devolvidas à natureza. Isso garante que a água do descascador seja reaproveitada de maneira eficiente e sustentável.
“Temos também uma parceria sólida com o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), por meio do nosso convênio com o Sindicato dos Produtores Rurais de Cabo Verde. Todos os cursos oferecidos pelo SENAR estão disponíveis para nossos funcionários, abrangendo não apenas a área da cafeicultura, mas também outras áreas, como costura, especialmente voltada para as mulheres, além de cursos de confeitaria, padaria e capacitações em diversos serviços”, conta o cafeicultor.
- Topografia plana
Já a Fazenda São João, de Décio Bruxel, está em Varjão de Minas, na região do Alto Paranaíba. “Estamos a uma média de 1.030m de altitude, no Cerrado Mineiro, com regime pluviométrico muito bem definido, com as chuvas terminando em meados de abril e iniciando em setembro. Topografia relativamente plana, o que possibilita a intensificação da mecanização em nossas áreas”, explica.
“O manejo fitossanitário segue os princípios do Manejo Integrado de Culturas, fundamentado na Agricultura Regenerativa e Sustentável, com o plantio de braquiária e um mix de plantas de cobertura entre as leiras, promovendo o equilíbrio do solo e das plantas através do desenvolvimento da vida biológica”, diz. A colheita é realizada de forma manual e mecânica, com o processamento dos frutos por via seca e úmida.
O produtor também cumpre seu papel social por meio de diversos projetos que beneficiam a comunidade e funcionários, oferecendo atividades físicas, culturais, esportivas, educacionais e ambientais.
Dentre as atividades vale destacar projetos, como: Programa Integrar, que promove o desenvolvimento de adultos e crianças; o Bombeiro Mirim, que já formou 1.400 alunos com ênfase em cidadania e primeiros socorros; o Esporte Paraolímpico, que apoia pessoas com deficiência, incluindo o Basquete Sobre Rodas; e o Projeto Ambiental Floresta dos Visitantes, que foca na preservação ambiental.
Dois prêmios serão entregues nesta terça-feira (12 de novembro), em Nova York: o ‘Best of the Best’, escolhido por um júri de nove especialistas em café, e o ‘Coffee Lovers’ Choice’, selecionado pelos consumidores que participam de uma degustação às cegas de uma semana, nas lojas da empresa em todo o mundo. Os três mineiros, que concorrem nas duas categorias, vão estar presentes na cerimônia. Além do Brasil, há finalistas da Costa Rica, El Salvador, Etiópia, Guatemala, Honduras, Índia, Nicarágua e Ruanda.
Alguns dos critérios para a escolha do prêmio são cor, aspecto, teor de umidade e a qualidade da bebida, inclusive com degustação para espresso. As bebidas também são analisadas quimicamente para ficarem dentro do limite de resíduos para agroquímicos permitido mundialmente e aceito pela illycaffè.
Minas pode ser bicampeão
A edição anterior do Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy foi conquistada pela primeira vez pelo Brasil, com a fazenda mineira São Mateus Agropecuária, com troféu entregue a José Eduardo Dominicale. “Esta conquista é particularmente significativa, porque o café foi produzido utilizando práticas agrícolas regenerativas, que beneficiam o ambiente e a saúde, ao mesmo tempo em que resultam em um café de qualidade excepcionalmente elevada”, diz Andrea Illy, presidente da empresa.
“De lá para cá, evoluímos por meio da implantação de melhorias contínuas nas lavouras e a expansão do pós-colheita. Profissionalizamos a nossa equipe e, juntos, seguimos fortalecendo a marca e buscando tecnologias para melhorarmos nosso sistema produtivo. Há 15 anos fizemos a transição para a produção de cafés especiais, sempre focados nos pilares da sustentabilidade. Atualmente, implantamos a cafeicultura regenerativa, que visa manter os solos vivos e a saudabilidade de todo o ecossistema”, revela Dominicale.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino
Fonte: Estado de Minas
Foto: crédito: Antônio Carreiro/Divulgação
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